segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Critério para encerrar urgências passa de 10 para 3 atendimentos

O Ministério da Saúde mudou o critério para encerrar as urgências dos centros de saúde que funcionam das 24.00 às 8.00. A ideia inicial da tutela era fechar por todo o País os Serviços de Atendimento Permanente (SAP) que recebessem menos de dez utentes por noite. Mas esta intenção foi revista para três atendimentos. Na região Centro, por exemplo, o plano inicial implicaria o encerramento de todos os serviços hoje a funcionar.

As mudanças que vão ocorrer na rede de cuidados primários levaram o ministro da Saúde, Correia de Campos, a um périplo de três dias pelo distrito de Viseu, que terminou ontem com uma reunião com todos os presidentes de câmara da região. Uma visita para explicar a autarcas e profissionais de saúde os planos da tutela de pôr fim aos SAP, que será repetida nos próximos meses pelas outras regiões do País.

A oposição local a esta medida faz com que o tema seja de gestão difícil para o ministro, que preferiu não anunciar quantos e quais os centros de saúde na lista de encerramentos, o que só acontecerá quando as soluções estiveram definidas a nível nacional. Mas, em Viseu, deverão ser a maioria dos dez existentes.

O fecho destes serviços não tem, por enquanto, data marcada. Até porque o Governo garante que nada será fechado sem que haja alternativas em funcionamento. Estas novas soluções ainda estão a ser pensadas e vão passar pela criação de uma rede de Urgências Básicas para substituir os SAP. Estas urgências, de primeira linha, funcionarão apenas em centros de saúde que obedeçam a critérios de qualidade mais apertados do que os actuais equipas de dois médicos e dois enfermeiros e aparelhos de diagnóstico e análises para evitar o encaminhamento dos doentes menos graves para as urgências hospitalares. Além deste nível de atendimento, serão reorganizadas as urgências hospitalares em dois grupos: polivalentes (as mais completas) e medico-cirúrgicas (intermédias).

Os dez SAP do distrito de Viseu atendem 28 pessoas por noite. O que representa uma percentagem de 2,8 doentes vistos por cada unidade entre as 24.00 e as 8.00. Há mesmo unidades, como a de Armamar, que atendem apenas um doente e que integram o lote de encerramentos quase certos.

Contudo, o número de utentes é apenas um dos pontos tidos em conta para o encerramento, que será cruzado com a distância, a acessibilidade e o transporte de ambulâncias. Mesmo fechando serviços, a tutela assegura que ninguém ficará com uma urgência a mais de 60 minutos de distância.

O ministro considera que muitos dos actuais SAP são "uma falsa segurança para as populações" e uma despesa injustificada para o Estado. Além disso, diz, na prática não são mais do que um prolongamento do horário de consultas normal para quem não consegue ser visto pelo médico durante o dia. E uma forma de consumir os recursos humanos destas unidades, a maioria com um número reduzido de médicos em idade perto da reforma. A reconversão de alguns centros em Unidades de Saúde Familiar (mais pequenas, com horários alargados e um pagamento aos médicos por doentes atendidos) deverá, segundo o governante, resolver esta questão.

"Há 11 centros de saúde sem SAP em Viseu e as pessoas não são mais mal atendidas", defendeu também o presidente da Administração Regional do Centro , Fernando Regateiro, sublinhando que hoje se "confunde urgências com atendimento permanente" e que o objectivo é melhorar a qualidade.

Mas a ideia está longe de colher a aprovação da população e dos autarcas, apostados agora em conseguir assegurar um novo serviço de urgência básica para as suas cidades. O presidente da Câmara de Vouzela, um dos locais visitados por Correia de Campos, é um deles. Armindo Ferreira considera que a medida "só pode agravar a situação das pessoas" e que se trata "de uma desconsideração" para com a cidade.

Em Viseu, a Comissão de Utentes da Saúde está já a promover um abaixo-assinado para entregar na Assembleia da República. Segundo a representante deste movimento, Helena Neves, "a população é envelhecida e não tem forma de se deslocar para outros locais". O abaixo-assinado conta já com 2200 subscritores, mas "serão muito mais", garante.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

Governo “ignora” autarcas do PSD/Algarve

Quatro presidentes de câmaras municipais algarvias, todos eles sociais-democratas, solicitaram audiências com o Governo durante o ano passado, tendo sido todas elas “ignoradas”. A acusação partiu do PSD/Algarve, este mês, que descreve a atitude do governo socialista como “pouco democrática”. O autarca social-democrata que lidera a lista dos “mais ignorados” é Desidério Silva (Albufeira), que alegadamente pediu três audiências com o secretário de Estado adjunto da Administração Interna, uma com o secretário de Estado dos Transportes, uma com o secretário de Estado do Turismo e uma com o ministro do Ambiente. No entanto, todas elas não terão obtido qualquer resposta por parte do Executivo. Quem também teve a mesma sorte foi o presidente da Câmara de Loulé, Seruca Emídio, que terá solicitado duas vezes audiências com o secretário de Estado do Turismo. Por sua vez, o PSD/Algarve alega que Isabel Soares, da Câmara de Silves, solicitou audiências com o ministro das Obras Públicas e com o ministro do Ambiente e Ordenamento do Território, mas o sucesso foi o mesmo, ou seja, nenhum. Os sociais-democratas frisam ainda que a Câmara de Vila Real de Santo António terá solicitado uma audiência com o secretário de Estado da Administração Local. “Este comportamento evidencia uma discriminação relativamente aos autarcas socialistas algarvios. O PSD/Algarve apela ao sentido de Estado e de isenção do primeiro-ministro, para colocar os seus ministros dentro da ordem democrática e republicana”, concluíram.

Publicado no "Jornal do Algarve"

segunda-feira, 23 de janeiro de 2006

Cavaco ganha à primeira

Aníbal Cavaco Silva foi ontem eleito Presidente da República à primeira volta, obtendo 50,6% dos votos.

Manuel Alegre foi segundo, com 20,7%, a grande distância de Mário Soares, apenas terceiro, com 14,3, confirmando a generalidade das últimas sondagens. Jerónimo de Sousa teve 8,6%, bem à frente de Francisco Louçã (5,3%) e Garcia Pereira (0,4%). A abstenção ficou nos 37,7% – em 1996 (Sampaio-Cavaco) fora de 33,3%. Faltava ainda terminar o escrutínio em Algés (Lisboa), e houve um boicote em Passos, Cabeceiras de Basto, e o roubo dos cadernos eleitorais no Pinhão, concelho de Alijó, que vão a votos amanhã.

Só depois das 22h30 é que Cavaco apareceu a ler a sua declaração no Centro Cultural de Belém. “Quero ser, e serei, o Presidente de todos os portugueses”, disse, depois de afirmar que “a eleição acabou e com ela a maioria que me elegeu”. Mais à frente, ouvido quase em silêncio pelos apoiantes, Cavaco disse que quer o desenvolvimento “que só é económico para ser social”, sublinhando o valor da estabilidade política e do diálogo “para planear e tomar decisões”.

A vitória de Cavaco, que os estudos de opinião à boca das urnas avançados pelas três televisões às 20h00 já davam como certa (a da RTP era a menos clara e apontava 49 a 54%), acabou por ser anunciada por Mário Soares, às 21h36, no Hotel Altis, em Lisboa: “O prof. Cavaco Silva foi eleito à primeira volta com maioria absoluta. Resta-me felicitá-lo, o que já fiz pelo telefone”. A essa hora ainda havia dúvidas, porque o primeiro candidato do centro-direita a ser eleito Presidente após o 25 de Abril o acabou por ser com quase os mesmos votos (ou até um pouco menos) com que Freitas do Amaral perdeu para Mário Soares em 1986 – cerca de 2,8 milhões. Aliás, com 0,79% de votos nulos e 1,06% brancos, a eleição ficou decidida ontem porque só contam os votos nos candidatos.

A noite ficou marcada pela derrota de Mário Soares, o candidato do PS, e a última desfeita ao rebelde Manuel Alegre foi o facto de José Sócrates ter começado a falar ao mesmo tempo que Alegre lia a sua declaração, pelo que as televisões ignoraram o último. Muitos entenderam o caso como uma maldade do primeiro-ministro. Os assessores explicaram depois que Sócrates não sabia que Alegre falava na mesma altura.

RESULTADOS NACIONAIS:

CAVACO SILVA, 2 753 511 VOTOS, 50,60%

MANUEL ALEGRE, 1 126 633 VOTOS, 20,72%

MÁRIO SOARES, 780 631 VOTOS, 14,34%

JERONIMO SOUSA, 467 146 VOTOS, 8,59%

FRANCISCO LOUÇÃ, 288 597 VOTOS, 5,31%

GARCIA PEREIRA, 23 718 VOTOS, 0,44%

CONCELHOS APURADOS: 306

FREGUESIAS APURADAS: 4258

INSCRITOS: 8 830 706

VOTANTES: 5 529 117

ABSTENÇÃO: 37,39

publicado no jornal "Correio da Manhã"

quarta-feira, 4 de janeiro de 2006

Cavaco Silva quer “Portugal no pelotão de desenvolvimento da União Europeia”

Cavaco Silva escolheu o seu concelho Natal, Loulé, para deixar uma mensagem positiva em relação ao futuro do país e para mobilizar todos os portugueses para o desafio de tornar “2006 no ano de viragem”. Intitulando-se como a “escolha certa”, Cavaco sublinhou que pretende ser um “presidente activo”.

Aplaudido à chegada por mais de 1300 conterrâneos o algarvio, natural de Boliqueime, manifestou a sua disponibilidade em ajudar a resolver “a crise de confiança que abala os portugueses” e estar empenhado em “colocar o país novamente no caminho progresso e da prosperidade, aproximando-o do primeiro pelotão de desenvolvimento da União Europeia”.

“Parece que Portugal está envolvido numa teia de problemas e o Presidente da República pode ajudar a desatar este nó que nos bloqueia e amarra. Um Presidente da República pode ajudar a ultrapassar esse estado de espírito e ajudar a combater os pessimismos, os desânimos, as descrenças e mobilizar os portugueses para o desafio do futuro”, frisou.

Falando da falta de competitividade de Portugal a nível internacional, Cavaco Silva sublinhou que tem muito orgulho em ser português e não se “conforma com uma situação em que nos atrasamos, em cada ano, num nível de desenvolvimento em relação à nossa vizinha Espanha”.

Cavaco sublinhou que “os portugueses precisam de um Presidente da República activo e empenhado. Com os tempos difíceis que vivemos não podemos estar resignados e convencidos que não se pode fazer nada para alterar esta situação. O Presidente da República tem de ser o primeiro na linha da frente a tentar mobilizar todos os portugueses”, sublinhou o candidato.

Destacando que defende a estabilidade o candidato social-democrata mostrou-se empenhado na cooperação com o Governo para a resolução dos problemas que afectam o país. As questões sociais, da educação, da saúde e da economia não ficaram esquecidas e foram bastante focadas durante o jantar ao qual assistiram a maioria dos presidentes sociais-democratas algarvios.

“Se for eleito Presidente da República empenhar-me-ei fortemente na valorização dos nossos recursos humanos. Sei muito bem como a educação é decisiva para que os nossos jovens possam enfrentar as dificuldades neste mundo complexo e de globalização. Tenho manifestado a minha preocupação em relação à pobreza infantil. Tenho manifestado a minha disposição para lutar contra o abandono escolar e contra o insucesso escolar. Quero trabalhar por Portugal e ajudar os portugueses a escolher o caminho certo”, concluiu.

publicado no "jornal Região Sul"